domingo, 2 de setembro de 2012

"Deito outra vez. Pego no sono de leve. Acordo de novo, às 4h51, às 5h27, às 6h03, às 6h28, às 6h59, às 7h13, às 7h44, às 8h25. Nove horas. Moribundo, eu disco a única sequência numérica que sei de cor, a única que me importa na verdade. No terceiro trim-trim você atende, já no escritório, o tom feliz de quem parece que vive pedalando nos cisnes do lago central. Algumas pessoas felizes não deixam chegar perto não porque não querem repartir sua alegria, mas para não serem desmascaradas. Eu odeio o seu cinismo, sua capacidade de esquecer, sua incapacidade de clarear as coisas, suas pernas, a rua da sua casa, seus deboches fora de hora, sua habilidade em ser outra pessoa de um minuto para o outro."
Gabito Nunes

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